Por que nessa cidade tem tanta loja de cadeira?

Quando me mudei para essa cidade, uma coisa que sempre me chamou atenção é a quantidade de lojas que vendem uma coisa só, e no caso, cadeiras. Cadeiras de todos os tipos: altas, baixas, monoblocos, sóbrias, elegantes, "diferentonas", unitárias, conjuntos... mas sempre só cadeiras.

No caminho de casa para o trabalho, vejo pelo menos dois desses estranhos estabelecimentos, e sempre que os 144p dos meus olhos capturam as cadeiras na vitrine — que já fazem parte de uma atmosfera única de lojas de cadeiras — só consigo pensar em uma palavra: "Por quê?"

Longe de mim julgar, não que donos de lojas não possam escolher o que vender, mas tantas pessoas assim compram cadeiras avulsas? Não me entenda mal, eu não entendo muito desse lance de cadeiras, mas qual o sentido de comprar cadeiras sozinhas? Será que as cadeiras que essas pessoas tem em casa, acabam se sentindo solitárias, e precisam da companhia de outras cadeiras para se sentirem felizes?

Um dia, resolvi entrar em uma dessas lojas. O vendedor me recebeu com um sorriso que só podia ser treinado em alguma escola de vendedores de cadeiras. Então eu perguntei: "Moço vem cá, por que só vender cadeiras?" Ele coçou a cabeça e respondeu meio hesitante, mas muito sério: "Ué, eu acho que é porque essa cidade é feita de gente cansada"

Saí da loja coçando o queixo e, quando olhei para a rua, percebi, eu também estava cansada, então sentei no banco da calçada, admirando as cadeiras... e pensando se as minhas cadeiras, assim como eu, também se sentiam solitárias.

No fim, entendi que talvez a cidade inteira só funcione porque ninguém jamais fica (de pé) por muito tempo.